segunda-feira, 21 de julho de 2014

10 Coisas que você precisa saber sobre a situação Palestina (antes de comentar nos Portais de Notícia):

Por Diego Bevilacqua.


Tenho visto muitos erros de análise sobre essa situação então vou elencar aqui algumas coisas importantes para pelo menos existir um debate, ou mesmo para que você tenha embasamento mínimo antes de sair comentando senso-comum nos portais da Web. Tentarei linkar matérias mais detalhadas em conjunto.

Muitos dos fatos aqui você provavelmente não conhece, pelo fato de serem informações, muitas vezes inacessíveis, ou simplesmente "não-palatáveis" ao hábito de consumo de notícias do Ocidente, o que nos leva ao primeiro fato:


#1 OS VEÍCULOS DE COMUNICAÇÃO OCIDENTAIS SÃO PRÓ-ISRAEL.

Bem, vamos apenas assumir aqui que dois times (Azul x Verde) jogam de lados opostos e vamos ignorar as razões por um instante.

Você vive na vizinhança do "time azul". Esse time tem uma poderosa máquina de propaganda a seu dispor, pois o cara mais rico do bairro é também um dos fundadores do time e ele tem uma porção de canais de mídia. Mas mais que isso, com sua influência, ele também tem o poder de coagir os outros veículos dos quais não é dono (e até mesmo parceiros comerciais) a torcerem para seu time, ou ao menos não torcerem para ninguém. Traduzindo, os EUA são os "pais" do Estado de Israel, o time azul. O time verde é a Palestina.

Veja que não estou dizendo necessariamente que isso está errado etc., mas apenas pontuando que se você mora no Ocidente, as chances de que você torça para o time azul por pura desinformação, são imensas. Isso é apenas vital para a saúde da sua opinião. Assim como veículos de mídia dizem sobre outros veículos serem "pró-russos", "pró-xiitas", "pró-governo", é necessário entender que não há neutros nesse cenário e que todos envolvidos têm interesses.

"Ele é armado e perigoso", diz a mídia Ocidental. 


#2 NÃO EXISTE "GUERRA OU CONFLITO NO ORIENTE-MÉDIO", EXISTE UM MASSACRE.

Vamos ver a definição de "Guerra", segundo o Aurélio.

"guerra 
guer.ra 
sf (germ *werra) 1 Luta armada entre nações, por motivos territoriais, econômicos ou ideológicos. 2 Campanha. 3 Luta. 4 Arte militar. 5 Ciência de conduzir um exército em campanha. 6 Coibição, combate de paixões, abusos, vícios etc. 7 Luta entre os animais. "

Não existe luta armada entre nações, visto que a Palestina não é uma nação e não possui um exército. Não existem objetivos militares, uma vez que os ataques são direcionados a civis. Não estamos falando de "uma guerra onde morrem civis". Estamos falando de um exército bombardeando cidades onde não há qualquer foco militar. Até porque, na História das "guerras entre nações", geralmente os vencedores são aqueles que mais sacrificam seus povos. Tanto na 1a, quanto na 2a Guerra Mundial, os "vencedores", foram aqueles que tiveram mais baixas de civis E militares.

Cenário um pouco diferente de hoje, onde a média é de 10 palestinos para 1 israelita.

Sim, existem grupos armados na Palestina, o que nos leva ao 3o fato:


#3 O HAMAS NÃO É UMA "MILÍCIA FUNDAMENTALISTA", MAS UM PARTIDO POLÍTICO.

Segue trecho de programa do Hamas: "O Hamas é um movimento nacional de libertação da Palestina que luta pela libertação dos territórios ocupados e pelo reconhecimento dos direitos legítimos dos palestinos (...) Trata-se de uma organização política, cultural e social calcada em bases populares que possui uma ala militar separada especializando-se na resistência armada contra a ocupação israelense (...) O movimento luta contra Israel, um Estado agressor, usurpador e opressor que dia e noite ergue seu rifle contra o rosto de nossos filhos e filhas".  Veja a matéria completa.

Como partido, o Hamas já inclusive ganhou eleições na Palestina. Eu sei que você pode se perguntar: "Mas porque um partido que é político precisa estar armado?". A resposta é bem simples: Porque seus inimigos também estão! E quando digo inimigos, não falo apenas em Israel, mas os próprios partidos eventualmente opositores que também são pró-Palestina, como o Fatah. Vamos também lembrar, que como a Palestina não é um Estado reconhecido, não possui um Exército Regular que tem como função básica defender a nação e o território, logo, para no mínimo garantirem sua existência, precisam se armar. Portanto, o Hamas não é comparável com a Al-Qaeda, por exemplo, que age como grupo mercenário prestando diversos serviços inclusive aos EUA e a Israel, como na Guerra Civil Síria.

É importante entender isso, para não cairmos no simplismo de achar que o Hamas é um grupo de "fanáticos religiosos", que matam única e exclusivamente por não concordarem com o judaísmo ou o cristianismo. Falando em religião....

Khaled Meshaal, líder do Hamas. Não é muito mostrado por não encaixar no estereótipo de "terrorista".  


#4 A PALESTINA NÃO É UMA DITADURA ISLÂMICA E NÃO HÁ ANTISSEMITISMO OU CONFLITO RELIGIOSO

A primeira ideia de senso-comum que temos é de que existe uma "Guerra Santa" na Palestina. Bem, se lembrarmos na História, quando Impérios convocavam seus povos por uma Guerra Santa, vamos lembrar que sempre havia um motivo econômico por trás do discurso. Hoje não seria diferente. No entanto, hoje nem Israel supõe desavenças religiosas. O pretexto dos ataques é sempre a existência de "grupos terroristas". Então, mesmo se formos tomar o discurso oficial de Israel e dos EUA, ainda estaríamos errados em falar de conflito religioso, até porque ambos são apoiados por alguns países islâmicos (ainda mais radicais), como a Arábia Saudita.

E a Palestina, pasmém, que teve os judeus como um dos povos originais, ainda é hoje multirreligiosa, ao passo que Israel é um Estado Judaico.

É importante lembrar que milhões de Judeus no mundo todo são contra as práticas do Esado de Israel que, governado pela extrema-direita, têm apoio de NAONAZISTAS e chega a incentivá-los com discursos de ódio racial.

Veja também:aqui, e aqui.

Se não é por religião, é pelo quê?


#5 TERRITÓRIO É UM BOM ARGUMENTO

Muitas pessoas, inclusive eu, tiveram ou têm esse pensamento de que o "Oriente Médio é o terror", tanto por algumas ideias preconceituosas que temos sobre culturas diferentes das nossas, quanto pelo medo do desconhecido. Acabamos achando que os povos de lá é que são bárbaros e brutos, por isso não conseguem viver em paz. No entanto, vamos conhecer o fator político que determina muito da violência que lá ocorre: Petróleo.

O Oriente Médio é uma terra estratosfericamente rica em petróleo. Não preciso dizer o quanto isso move de interesses, ainda mais dos que NÃO TÊM PETRÓLEO, mas têm armas... e bons argumentos.

A interferência de vários interesses na região passa pela ocupação (militar, política etc) de territórios estratégicos. Imagine um país no coração da região, com um povo indefeso (no sentido de não terem um Estado e um Exército), fazendo fronteira com países ainda não-colonizados ou semi-colonizados? Essa é a Palestina.

Se tiver dúvidas, veja como Israel avança TERRITORIALMENTE sobre um espaço que a princípio, teria uma divisão determinada.

Perda de terra Palestina: de 1946 a 2000.

O que fizeram então para manter o controle fronteiriço?


#6 LEVANTARAM UMA P**** DE UM MURO NA P**** TODA DO TERRITÓRIO

Parece insano né? Seria mais ainda se não fosse realidade. E não é uma prática nova. É uma velha estratégia de controle de uma nação sobre a outra, de cerco etc. E uma das mais crueis. Você deve conhecer a história de famosos "muros". O de Berlim, a muralha da China, os muros do Gueto de Varsóvia.... Pois é, todos eles construídos por motivos militares, sendo esse último, construído pelo exército de Hitler, para cercar os inofensivos judeus. Era mais que religioso ou racial, era estratégico.

Muro do Gueto de Varsóvia: Judeus enfileirados.

É de se abismar que muitas pessoas não conheçam, no entanto, a existência de um muro de 760km (e crescendo!) em pleno século XXI.

Alguma semelhança histórica?

Apenas pense no que representou a existência e queda do Muro de Berlim e entenda porque ninguém fala do Muro da Cisjordânia. 


#7 ISRAEL APENAS NÃO ELIMINOU TODA A POPULAÇÃO LOCAL POR QUESTÃO POLÍTICA

Deixo um trecho de Maquiavel, do seu clássico "O Príncipe" sobre estratégias de ocupação:

"Mas é nos principados novos que residem as dificuldades. Em primeiro lugar, se não é totalmente novo mas sim como membro anexado a um Estado hereditário (que, em seu conjunto, pode chamar-se "quase misto"), (...) Isso depende de uma outra necessidade natural e ordinária, a qual faz com que o novo príncipe sempre precise ofender os novos súditos com seus soldados e com outras infinitas injúrias que se lançam sobre a recente conquista; dessa forma, tens como inimigos todos aqueles que ofendeste com a ocupação daquele principado e não podes manter como amigos os que te puseram ali, por não poderes satisfazê-los pela forma por que tinham imaginado, nem aplicar-lhes corretivos violentos uma vez que estás a eles obrigado; porque sempre, mesmo que fortíssimo em exércitos, tem-se necessidade do apoio dos habitantes para penetrar numa província."

Eis o "erro" de Israel. E, segue a solução:

"Outro remédio eficaz é instalar colônias num ou dois pontos, que sejam como grilhões postos àquele Estado, eis que é necessário ou fazer tal ou aí manter muita tropa. Com as colônias não se despende muito e, sem grande custo, podem ser instaladas e mantidas, sendo que sua criação prejudica somente àqueles de quem se tomam os campos e as casas para cedê-los aos novos habitantes, os quais constituem uma parcela mínima do Estado conquistado. Ainda, os assim prejudicados, ficando dispersos e pobres, não podem causar dano algum, enquanto que os não lesados ficam à parte, amedrontados, devendo aquietar-se ao pensamento de que não poderão errar para que a eles não ocorra o mesmo que aconteceu àqueles que foram espoliados."

Para corroborar, veja como Israel maném uma política de colônias em território palestino. Aqui e aqui.


#8 EXISTE UMA QUESTÃO HUMANITÁRIA A SE PENSAR

Por qualquer ângulo que possamos olhar, seja o mais pragmático ou o mais pacifista, é necessário pensar na questão humanitária. É impossível, insustentável para uma perspectiva de paz, que todo um povo, uma cultura, continue morrendo de forma cruel, sem direito à defesa. Nesse cenário até mesmo a equiparação das forças militares do lado mais fraco pode significar menos violência, visto que seria uma barreira mais dura para os ataques de um Exército regular contra um povo desarmado (ou pessimamente armado) e disperso.

Mais ou menos como quando todos os países potências, após a II Guerra, construíram suas bombas atômicas (incluindo Israel!) e logo em seguida assinaram um tratado de não-agressão nuclear, evitando uma situação em que todos perderiam.
O reconhecimento do Estado Palestino, da legitimação de um processo democrático que os possibilite erguer uma nação que se auto-determine, deve ser o foco do esforço de países "neutros" no conflito, ou melhor, países mais interessados no não-fortalecimento de Israel e dos EUA, como os BRICs e outros países latinos como Argentina, Chile etc.

Você PRECISA saber da diferença que existe entre matar idosos, mulheres e crianças; e mortes de soldados no front.

Acredite: Essa foto não é das piores.

Aí você pode me perguntar: Mas então porque esses países não se unem para defender uma saída? Bem, eles se uniram numa coisa chamada Organização das Nações Unidas, porém....


#9 A ÚNICA RESOLUÇÃO DA ONU QUE ISRAEL RESPEITOU ATÉ HOJE, FOI A QUE CRIAVA ISRAEL

Não é exagero. Em 29 de Novembro de 1947, a ONU determinou a Partilha da Palestina, para que os judeus tivessem um "lar para recomeçar". Boa parte dos países que combateram o nazismo, defenderam a resolução, parecia justo.
No entanto, a escalada do Sionismo, que nada mais é do que justamente algo do qual os governos israelenses acusam aos governos muçulmanos, ou seja, uma "filosofia política extremista adequada aos interesses de uma interpretação religiosa" -- no caso a judaica; criou uma hostilidade dos governos de Israel aos povos da Palestina e fez com que a ONU voltasse atrás em várias decisões, todas ignoradas ou mesmo descumpridas por Israel e seus apoiadores.

Veja também: aqui.


#10 O MUNDO NÃO É UM CONTO DE FADAS

Se o mundo fosse um conto-de-fadas onde é fácil identificar o mocinho e o vilão, era fácil que todos unissem ao mocinho, para derrotarmos o vilão. Infelizmente não é assim o mundo e não é assim que a História gira. Nos guiamos por diversos valores morais e éticos que implica diversos ângulos de análise.
Existe uma realidade concreta, no entanto, que independente da nossa perspectiva e ela não se altera e deve ser reconhecida por todos. A saída para os conflitos de interesses é sempre dialética. É a relação das situações com seus papéis históricos e dos seres humanos, enquanto dominadores ou dominados. Isso é o que pôde guiar a humanidade a combater o nazismo, por exemplo, independente das diferentes morais sob quais se analisava a situação. O domínio do nazismo no planeta era interessante apenas para um ideal de mundo dentro da cabeça de uma meia dúzia de megalomaníacos.

Não pensem que durante a II Guerra, esses papéis eram claros como são hoje. Não pensem que a Alemanha não dispunha de todos os meios para mascararem, justificarem, deturparem o Genocídio que perpetraram contra os judeus, imigrantes etc. 

A questão é ser crítico, entender as contradições existentes no mundo e quais opções caminham para a dissolução das mesmas.

Assim como foi o desejo da humanidade a liberdade dos judeus e vítimas do nazismo, fica aqui meu desejo da libertação do Sionismo...

e meu apoio: VIVA A PALESTINA LIVRE!